Topos (1)

som da terra 3

 

 

Dois topos de morro. À direita, Sonic Pavillion, de Doug Atkin (2009). Um prédio cilíndrico que ofereceria a melhor vista do parque se o revestimento dos vidros não estivesse ali exatamente para impedi-la. É esse o efeito: quando se chega perto aquilo se torna opaco, e a paisagem some. Ao entrarmos ouvimos recomendações: preconiza-se silêncio absoluto. Somos avisados de que há, no interior, uma rampa de madeira potencialmente barulhenta. Pede-se que se evite caminhar sobre ela, mas que fiquemos à vontade para nos sentarmos ou deitarmos sobre ela. Lá dentro, a tal rampa, a sala, no mais vazia, construída em torno de um buraco. Esse buraco, de uns 50cm de diâmetro, tem como borda um anel de metal, letrado, que nos informa sua profundidade: 220m. Do que se trata: microfones sensibilíssimos localizados no fundo do poço captam o som da terra. Sofisticados sistemas de amplificação e caixas de som high-end fazem o resto do trabalho. É necessário silêncio para se ouvir, das profundezas, o som da terra.

Escuto aí a promessa de se recuperar da Terra a experiência autêntica, no sentido da Erfahung de ‘Experiência e Pobreza’. Ainda: a tentativa de suturar aquilo que Lacan aponta como a letra fazendo “furo no saber”: aqui o positivismo se aproxima do religioso. De fato, à borda do furo na Terra corresponde outra, em clarabóia, que se abre para os céus.

 

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